quarta-feira, 15 de abril de 2015

Reforma em Casa

Às vezes o coração da gente é como uma casa abandonada, cheia de lixo. Parece uma tapera que quando as pessoas passam na rua mal podem imaginar que ali possa ter sido bom. O ruim das casas abandonadas é que o trinco da porta geralmente está quebrado e aí entra tudo o que não deveria, ficando pior ainda, daquele jeito com forro caído, mato para os lados, piso quebrado e janelas batendo. E pra completar, novos moradores que acham que podem ficar lá por direito.

Chega uma hora que aquele pardieiro é tudo que se tem.  Acontece que o coração da gente tem bases sólidas, daquelas que o tempo não destrói.  Temos um só coração. Limpo ou sujo, doente ou cheio de vida, é esse, só esse.

Não sei de onde vem a coragem,  mas ela vem. Para alguns vem da fé. Para outros, da falta de opção. Outros ainda acreditam que dá para reformar. E dá.

Pra começar, tem que fazer a limpeza. E aí é difícil, depois de tirar tudo, conviver com um coração vazio porque a gente se acostuma até com o que é ruim. Trocar o tolerável por nada, pelo nulo, é se jogar no risco acreditando em sabe se lá o que. Só acreditando mesmo.

E desculpem, mas reforma é assim. Seriam três meses de obras e no fim demora uns sete, nove... Vem as brigas, mais esforço, mais sujeira, mais defeitos que você nem sabia que existiam mas existem. Não dá para pintar uma parede com infiltração e nem instalar um portão de correr com trilhos tortos, tem que ser firme, tem que ser reto. Se for eletrônico então, faça o favor de pagar a conta de energia e com tantos aumentos este ano, não vai ser fácil.

Em todas as obras da minha casa eu quis fugir antes de terminar. E pra ser sincera, me arrependi de todas as vezes que apressei o pintor. Porque não tem jeito, ele tem o ritmo dele e a tinta tem o tempo dela.

Ter uma casa reformada dá trabalho, mas quantas vezes você entrou em uma dessas depois de tudo pronto e nem acreditou que tudo aquilo partiu de você. É um tal de arrumar dinheiro não sei de onde, fazer acordo com pessoas que nunca apareceram e algumas que apareceram, bem, era melhor que não tivessem chegado perto. Mas você consertou e aí está.

Calma, tem mais. Quando está tudo pronto ainda tem a limpeza, daquelas de joelhos no chão, unha quebrada e ainda os machucados. Mas vale, a casa está pronta, a casa é sua.

Quando eu via casas prontas, limpas, eu tinha vontade de entrar. Mas chega uma hora que perde a graça. Porque eu sou daquelas de casa cheia, a minha.

E na sua casa, quando está tudo pronto, o trinco da porta funciona bem. Você escolhe quem vai entrar. Escolhe também quando vai aproveitar o silêncio, a tranquilidade. E faça festa, aproveite, porque o tempo é assim, em três ou cinco anos ela vai precisar de uma nova reforma, uma nova mudança, um novo recomeço. Que bom.  Ou vai falar que coração não é assim?

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